sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Ando tão à flor da pele

"Meu desejo se confunde com a vontade de nem ser..."

Zeca Baleiro, te compreendo

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Corpo é alma

Estava difícil digerir o problema. O estômago queimou.
Era rancoroso, não conseguia amar. Infartou.
Pensava demais e agia de menos. Dor de cabeça.
Sabia que o término daquele casamento a impediria de ter um filho. Mioma no útero.
Sentia que faltava algum preenchimento. Muita fome.
Tinha e sentia muito amor. Ficou magrinha rápido. E é por isso que dizem que quem tá apaixonado perde a fome...

TensãoPré

Caramba... taí uma das piores coisas existentes na (minha) vida de mulher: a TPM. Hoje por algumas horas eu achei que o mundo ia acabar, tive vontade de chorar horrores, e ainda me segurei pra não falar asneiras a terceiros. Ou seja, sou eu me contendo o tempo inteiro. É uma luta infindável, sem dúvidas. E muito, muito desgastante. E sempre dá em empate.
Eu sei que só vou ganhar quando cair o nível de progesterona do meu corpo...

(e é aí que me pergunto... quantos % somos psique? e quantos % somos hormônios? dá pra entrar algum tipo de matemática aí? ah, a metafísica...)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

pra ser gente grande...

...leva tempo. e esforço.

mas, afinal, o que é ser gente grande? crescer, sair da casa dos pais, se formar, arrumar um bom emprego, se casar, formar uma família? acho que também. mas ainda falta alguma coisa.

o amadurecimento é algo muito mais difícil e complexo do que se pensa. não vem com a idade, nem com o gênero e nem com a escolaridade. vem com a experiência? também, mas não só. acho que tem algo de muito individual em cada um que proporciona o amadurecimento. alguns precisam de algumas experiências para se firmarem maduros, mas talvez se uma outra pessoa tivesse as mesmas experiências, não teria o mesmo efeito... mas o que seria o amadurecimento então se não é somente todas as coisas citadas acima? ainda acho que é muito mais. é um processo árduo, muito árduo. é preciso paciência, sensibilidade, algumas dores para se alcançar um maior amadurecimento.
em suma, acho que amadurecimento é, principalmente, segurança. quando a pessoa começa a se sentir cada vez mais segura com suas decisões, é porque está amadurecendo. amadurecer é, também, largar tudo o que remete ao passado no passado. se desapegar de alguns objetos, rótulos, coisas de criança, por exemplo. ou então se olhar no espelho e se enxergar diferente, mais bonito, mais forte, mais feliz. é ter desejos e anseios de uma vida próspera e lutar para conseguir isso. é aceitar a vida como ela é e aprender a tirar proveito disso. é se firmar com os pés no chão, sonhar e fantasiar menos. é compreender o outro e suas dificuldades.

[dedico meu post ao aniversariante do dia, meu amigo Jonas]

terça-feira, 4 de outubro de 2011

prática e teoria não se misturam (mas deveriam, não é?)

Acho que tem muita gente na mesma situação que eu. Os alunos de Letras de terceiro e penúltimo ano, que estão pouco a pouco entrando na prática. Mas a prática tem-me parecido tão nova e diferente de tudo que eu já vi até então, muito desvinculada das teorias que aprendi.
Sei que estou na segunda melhor universidade do país e que isso vai encher meu currículo de cinco estrelas, independente da minha real formação. Mas aí é que está; começo a questionar tudo.
Eu sempre gostei da minha universidade e da minha faculdade. Aprendi muitas coisas interessantes e até o primeiro semestre do segundo ano eu era apaixonada pelo meu curso e sabia que estava seguindo a carreira certa. Mas esta sensação tem se desconstruído cada vez mais. Hoje, mais próxima da realidade e do fim do curso, percebo que não tenho base suficiente para atuar na Licenciatura que fará parte do meu currículo. É tudo muito intuitivo e chego a questionar se meu curso realmente é bom.
Não temos Gramática, nem Literatura Brasileira mais aprofundada, nem Literatura Portuguesa... a não ser que eu tenha sorte de poder fazer estas disciplinas aqui. Esta total abertura de poder pegar a Literatura que eu quiser me deixa feliz, por um lado, mas totalmente desanimada, de outro. Claro, é muito interessante saber coisas sobre Jorge Luis Borges ou então sobre Platão. Assim como é interessante (e ainda mais útil, sabendo que vou atuar em alguma escola brasileira) saber sobre Machado de Assis e Camões, que são disciplinas que abarcam o que eu realmente vou precisar saber pra poder ensinar aos meus futuros alunos.
Aí me vem aquele engraçadinho que diz: "Mas na universidade pública você tem que ir atrás das coisas! Você tem que ir lá buscar as informações! Ninguém te dá nada de mão beijada". Tá, tá, eu sei disso! Mas deveria conter na minha grade curricular muitas teorias consideradas básicas para que a prática funcione bem. Veja só, não sei nada de Bakhtin nem de Vygotsky. Não sei nada da base que me faria atuar como professora. E não sei nem por onde começar, se devo ou não devo estudar estes teóricos tão sempre mencionados nas Bibliografias de Licenciatura. Isto sem contar que as aulas da Faculdade de Educação são quase sempre muito ruins.
Aí me questiono também se ser professora de escola seria uma boa. As péssimas condições de trabalho, incluindo o salário baixo e o fato de eu não me sentir preparada PARA atuar como professora são fatores muito desmotivadores.
Aí penso em seguir a carreira de Linguista porque, olha só, tem coisa muito interessante por aí. A Neurolinguística também me fascina pois lida com educação, linguagem e neuropsicologia, apesar de eu [ainda] saber muito pouco sobre ela. Mas meu curso também tem muita pouca coisa sobre Linguística porque temos um Bacharel em Linguística e aí sim você poderá ser um Linguista de verdade... Ou seja, a pós-graduação terá de vir logo em seguida se eu decidir seguir esta área.
As disciplinas consideradas práticas, como o fato de montarmos um material didático ou então darmos aula de Português para Estrangeiros parecem ótimas pedidas. Mas não se enganem. O material didático é totalmente desvinculado da prática, o que nos faz pensar se ele funcionaria ou não. E a aula para os Estrangeiros é desvinculada da teoria e quase sempre nos sentimos perdidos e não sabemos nem por onde começar. Acho que tem alguma coisa errada aí, não é mesmo? Será eu a única pessoa a me sentir tão insegura quanto a tudo e tão desmotivada? Não, acredito que não.

Só sei que sempre crio expectativas na minha faculdade e quase sempre me frustro com ela.
Mas é isso aí. O último ano me espera e pretendo criar novas expectativas mais uma vez...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Quando a Morte lhe acena

A angústia aparece, o coração aperta quando a Morte nos acena. Pode ser de perto, de longe, de passagem rápida, de supetão, com hora marcada, devagar, discretamente. De qualquer maneira, o desamparo e o desespero estão entre os primeiros sinais. A tristeza vem junto, algumas vezes encarregada de um alívio.

A Morte sempre me acenou de muito longe; tive pouco contato com ela. Não a conheço. Mas ela vem me acenando há alguns dias e quer chegar cada vez mais perto, como se quisesse me conhecer bem a fundo. Sei que ainda a encontrarei em muitos momentos.

Torço mesmo para que ela vá embora o quanto antes pois sua presença é insuportável, me incomoda e me dá dor de barriga. Que vá logo embora e carregue os meus sentimentos ruins consigo.

Se ela vier falar comigo, já até ensaiei o que dizer:

"- Todos os cães merecem o céu, você bem sabe disso..."

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

(sem direito a título)

Apesar de certas coisas não terem dado certo, a garota humilde de grandes anseios sabia que tudo o que havia se passado não foi em vão; valeu a pena. Apesar de algumas vezes solitária e imaginativa, vivia todos os dias com o maior proveito que pudesse conseguir, e amava a muitos, amava muito.

Quando ela soube que ele estava morto e que tudo que haviam passado tinha sido em vão, que agonia. Ele está podre, faltava só enterrar. As palavras soavam sarcásticas, irônicas, frias, tristes, por mais que não passassem de brincadeirinhas na tentativa de suprir uma conversa casual.

Ela não sabia o que deveria sentir. Ser durona? Julgar? Aconselhar? A menina tentava de maneira sutil e doce - como não conseguia fazer de outra meneira - alertá-lo do suposto inferno que o esperava. E torcia para que, desta vez, ela estivesse enganada.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

e na (in)certeza da felicidade

seguia passo a paz o rendia a olhar os cacos que cor tão sutil mente que podia encarar sem macho caros pés.


(dica: leia corrido, pelos sons)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Vermelho


(fiquei com preguiça de digitar pois tinha somente escaneado. O conto foi publicado no Jornal do Grêmio da minha escola na época, em 2007)

terça-feira, 5 de julho de 2011

música

sentido único que impulsiona todos os outros sentidos.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

desgaste

Me sinto feliz por mim, pelas minhas conquistas, pela minha empolgação em querer viver, pelo meu bom humor apesar das dificuldades, pela minha fé resgatada após um longo período em dormência. Me sinto feliz até mesmo pela minha universidade, que se esforça a cada dia para que a educação melhore. Me sinto feliz pela minha família e por amigos que me dão força e são meus exemplos de vida. E sinto um leve esgotamento de espírito ao ver tudo que acontece ao meu redor. As pessoas, suas tantas dificuldades e sofrimentos. Esse mundo que não pára e não nos deixa descer e pensar nas coisas. Os mil amores por aí perdidos. As relações moralmente incorretas. O trabalho pelo dinheiro, e só por ele. O estresse da vida corriqueira. O desânimo e depressão de jovens com 20 e poucos anos de classé média alta estudando numa das melhores universidades do país - e posso dizer isso porque vivo com eles todos os dias.
Não sei sei se são os tempos modernos, não sei o que é. Parece tudo um caos por fora. E uma ordem que é só de dentro - e acho que já basta, né?

terça-feira, 14 de junho de 2011

sexo

entregar seu corpo e sentir a alma do outro dentro de si.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

antes de dormir

penso em tudo, me enriqueço. sinto mil pensamentos vindo à tona, como sussurrados no ouvido e ditos com a plena sinceridade e do mais profundo sentimento. me sinto genuína, leve, verdadeira, eu. desprendida do mundo, sozinha, no escuro, comigo. não tem como errar.
eu quero o desejo, o sorriso, os olhos, cabelos, palavras, risos. como eu quero tanto te dizer tudo sem medo de quaisquer arrependimentos. queria te dizer... e dar ouvidos a toda essa minha vontade que não segue a matemática das coisas e não tem medo de se machucar. ah, mas eu faria isso se fosse antes de dormir. em que as estrelas e sonhos se tornam realidade.

(estou precisando daqueles momentos em que a vida deixa de ser um pouco realista e que temos a certeza de estarmos flutuando no ar. encarar a realidade é bom, mas pode cansar...)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

para os que curtem mitologia


A Casa de Astérion, de Jorge Luís Borges



E a rainha deu à luz um filho

Que se chamou Astérion.

APOLODORO: Biblioteca, III, I



Sei que me acusam de soberba, e talvez de misantropia, e talvez de loucura. Tais acusações (que castigarei ao seu devido tempo) são irrisórias. É verdade que não saio de minha casa, mas também é verdade que suas portas (cujo número é infinito*) estão abertas dia e noite aos homens e também aos animais. Que entre quem quiser. Não encontrará aqui pompas feminis nem o bizarro aparato dos palácios, mas sim a quietude e a solidão. Assim, encontrará uma casa como não há outra na face da Terra. (Mentem os que declaram que no Egito existe uma parecida). Até meus detratores admitem que não há um só móvel na casa. Outra história ridícula é que eu, Astérion, sou um prisioneiro. Repetirei que não há uma porta fechada, acrescentarei que não há uma fechadura? Além disso, num entardecer pisei a rua; se antes da noite voltei, fiz isso pelo temor que me infundiram os rostos da plebe, rostos descoloridos e achatados, como a mão aberta. Já se havia posto o sol, mas o desvalido choro de uma criança e as toscas preces da grei disseram que me haviam reconhecido. O povo orava, fugia, prosternava-se; alguns trepavam na estilóbata do templo dos Machados, outros juntavam pedras. Algum, creio, ocultou-se sob o mar. Não em vão foi uma rainha minha mãe; não posso confundir-me com o vulgo, ainda que minha modéstia o queira.

O Fato é que sou único. Não me interessa o que um homem possa transmitir a outros homens; como o filósofo, penso que nada é comunicável pela arte da escritura. As maçantes e triviais minúcias não têm espaço em meu espírito, que está capacitado para o grande; jamais reti a diferença entre uma letra e outra. Certa impaciência generosa não consentiu que eu aprendesse a ler. Às vezes o deploro, porque as noites e os dias são longos.

Claro que não me faltam distrações. Igual ao carneiro que vai investir, corro pelas galerias de pedra até rolar no chão, nauseado. Escondo-me à sombra de uma cisterna ou à volta de um corredor e finjo que me procuram. Existem terraços de onde me deixo cair até me ensangüentar. A qualquer hora posso fingir que estou adormecido, com os olhos fechados e a respiração poderosa. (Às vezes durmo realmente, às vezes está mudada a cor do dia quando abro os olhos.) Mas, de tantas brincadeiras, a que prefiro é a do outro Astérion. Finjo que vem visitar-me e que lhe mostro a casa. Com grandes reverências, digo-lhe: Agora voltamos à encruzilhada anterior ou Agora desembocamos em outro pátio ou Bem dizia eu que te agradaria o canalete ou Agora verás uma cisterna que se encheu de areia ou Já verás como o porão se bifurca. Às vezes me confundo e nos rimos agradavelmente os dois.

Não só tenho imaginado esses jogos; também tenho meditado sobre a casa. Todas as partes da casa existem muitas vezes, qualquer lugar é outro lugar. Não há uma cisterna, um pátio, um bebedouro, uma manjedoura; são quatorze [são infinitos] as manjedouras, bebedouros, pátios, cisternas. A casa é do tamanho do mundo; ou melhor, é o mundo. Contudo, à força de se fatigar em pátios com uma cisterna e poeirentas galerias de pedra cinza, alcancei a rua e vi o templo dos Machados e o mar. Não entendi isso até que uma visão da noite me revelou que também são quatorze [são infinitos] os mares e os templos. Tudo existe muitas vezes, quatorze vezes, mas duas coisas há no mundo que parecem existir uma só vez: acima, o intrincado Sol; abaixo, Astérion. Talvez eu tenha criado as estrelas e o Sol e a enorme casa, mas já não me recordo.

A cada nove anos entram na casa nove homens para que eu os liberte de todo mal. Ouço seus passos e sua voz no fundo das galerias de pedra e corro alegremente a procurá-los. A cerimônia dura poucos minutos. Um após outro caem sem que eu ensangüente as mãos. Onde caíram ficam, e os cadáveres ajudam a distinguir uma galeria das outras. Ignoro quem são, mas sei que um deles profetizou, na hora de sua morte, que algum dia chegaria o meu redentor. Desde então não me dói a solidão, porque sei que vive meu redentor e no fim se levantará sobre o pó. Se meu ouvido alcançasse todos os rumores do mundo, eu perceberia seus passos. Oxalá que me leve a um lugar com menos galerias e menos portas. Como será meu redentor? pergunto-me. Será um touro ou um homem? Será talvez um touro com rosto de homem? Ou será como eu?

O sol da manhã reverberou na espada de bronze. Já não havia nenhum vestígio de sangue.

– Acreditarás, Ariadne? – disse Teseu –. O minotauro apenas se defendeu.



À Marta Mosquera Eastman



*O original diz catorze, mas sobram motivos para inferir que, na boca de Astérion, esse adjetivo numeral vale por infinitos. (N. do A.)

terça-feira, 15 de março de 2011

Realidade x Ficção

por mim

“A obra de ficção nos encerra nas fronteiras de seu mundo e, de uma forma ou outra, nos faz levá-la a sério”. A partir desta sentença de Umberto Eco em Seis Passeios pelo Bosque da Ficção pretendo analisar a dicotomia Realidade e Ficção. Por que a ficção nos leva para dentro de si e se faz sempre tão sedutora? Por que muitas vezes tentamos “enxergar” a vida como uma ficção? O que poderíamos considerar uma ficção realista?

Umberto Eco, em Seis Passeios pelo Bosque da Ficção, desmembra alguns recortes de romances a fim de explicar o jogo de funcionamento da ficção. Ao comparar a ficção como um jogo “fechado”, de um mundo finito e semelhante ao nosso, o autor demonstra as divergências entre o que pode ser considerado real ou então ficcional dentro do próprio funcionamento de uma narrativa.

A ficção possuiria “sua realidade”, o que consideraríamos “real” dentro daquele mundo pequeno. Entretanto, a ficção deve ter sua coerência interna para que não “se auto-invalide”. O autor da narrativa ficcional, neste caso, “(...) não passa de uma estratégia textual que é capaz de estabelecer relações semânticas e que pede para ser imitada (...)” (ECO, 1994, p. 31). Ou seja, é a lógica e semântica textual que vai promover o sentido daquela narrativa, desvinculando o autor e suas questões biográficas e/ou pessoais do sentido que deveríamos promover (Umberto Eco, neste instante, se mostra com uma visão estruturalista de leitura e escrita).

Ao metaforizar a ficção como um Bosque em que o leitor pode traçar seu caminho em meio a muitos outros ali presentes, Eco faz a seguinte reflexão (p.83):

“Quando entramos no Bosque da ficção, temos que assinar um acordo ficcional com o autor e estar dispostos a aceitar, por exemplo, que lobo fala. (...) Imaginamos o lobo peludo e com orelhas pontudas, mais ou menos como os lobos que encontramos nos bosques de verdade, e achamos muito natural que Chapeuzinho Vermelho se comporte como uma menina e sua mãe como uma adulta preocupada e responsável. Por quê? Porque isso é o que acontece no mundo de nossa experiência, um mundo que daqui para a frente passaremos a chamar, sem muitos compromissos antológicos, de ‘mundo real’.”

É necessário que haja elementos de nossa realidade em uma ficção. Os leitores precisam saber de coisas do mundo real para presumi-lo como pano de fundo para o mundo ficcional. Eco cita que os mundos ficcionais são “parasitas” do mundo real, porém são “menores” porque delimitam a nossa competência do mundo real e nos permite que entremos num mundo fechado, finito e mais “pobre” que o nosso. Talvez seja por isso que a ficção se torne tão sedutora aos leitores. Por ser um mundo “menor” e “fechado”, ele se torna coerente e tem “sentido”. “Ler ficção significa jogar um jogo através do qual damos sentido à infinidade de coisas que aconteceram, estão acontecendo ou vão acontecer no mundo real. Ao lermos uma narrativa, fugimos da ansiedade que nos assalta quando tentamos dizer algo de verdadeiro a respeito do mundo.” (ECO, 1994, p. 93) Esta é a função “consoladora” da narrativa ficcional: “encontrar uma forma no tumulto da experiência humana” (Idem).

Ler um romance nos traz a sensação confortável de viver em mundos nos quais a visão de verdade é indiscutível, enquanto o mundo real nos parece algo mais “traiçoeiro”, “nebuloso” e de difícil compreensão. E é por esta razão que somos tentados a dar forma à vida através de esquemas narrativos; através de uma “lógica” que segue as lógicas textuais narrativas. Eis que Eco cita (p. 121):

“Qual é a moral desta história? É que os textos ficcionais prestam auxílio à nossa tacanheza metafísica. Vivemos no grande labirinto do mundo real, que é maior e mais complexo que o mundo de Chapeuzinho Vermelho. É um cujos caminhos ainda não mapeamos inteiramente e cuja estrutura total não conseguimos descrever. Na esperança de que existam regras do jogo, ao longo dos séculos a humanidade vem se perguntando se esse labirinto tem um autor ou talvez mais de um. (...) A Divindade nesse caso é algo eu precisamos descobrir ao mesmo tempo que descobrimos por que estamos no labirinto e qual é o caminho que nos cabe percorrer”

Nos mundos ficcionais, sabemos que há um autor que está por trás da mensagem ficcional dando-lhe um sentido. Por esta razão temos a necessidade de encontrar um “Autor” para a nossa realidade, para encontrarmos um sentido da vida.

Entretanto, há certas ficções consideradas mais “realistas” do que outras. Talvez por conterem “menos sentido” ou então “múltiplos sentidos”; por se tornarem um “bosque emaranhado e distorcido”, e não organizado como um jardim francês. Estas ficções se apresentariam mais próximas à nossa realidade.

De acordo com Eco, a ficção nos fascina não só pelo fato de parecer mais atrativa que a realidade, mas também por nos proporcionar a oportunidade de usarmos nosso conhecimento de mundo para reconstituir o passado. A ficção tem a mesma função dos jogos. As crianças brincam e simulam situações de adultos, aprendendo a viver. E é por meio da ficção que os adultos exercitam sua capacidade de estruturar a experiência passada e presente.

Bibliografia:

ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 1994

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

coragem, o cão covarde

Oi,

quer sair comigo? Podíamos sair pra tomar um café e comer um pastel, nem que seja na Paulicéia Desvairada algum fim de semana aleatório. Minhas aulas começam essa semana; de Campinas pra SP é um pulo.

vê aí e me fala o que acha. se tiver alguma sugestão de entretenimento, diz aí.


Beijos,

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

não se preocupe em buscar as peças do quebra cabeça para formar a imagem sonhada.
tente fazer uma imagem com aquelas que você tem.

e como esta tão simples metafóra pode significar coisas tão importantes...
e de vida e amor tento formar aquilo a que me resta: eu

e aí que eu me encontro, colorida.

:)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Estranhezas

Hoje fui à livraria em busca de um livro de literatura fantástica, muito bem falado e indicado por uma amiga minha. O livro não era muito barato, mas eu já havia separado o dinheiro e tinha certeza de que iria levar se encontrasse. Quando me deparei com o livro e li sua 'sinopse' na contra-capa, tive a sensação de estar relendo um passado meu, e decidi na hora não comprar. Foi uma sensação muito estranha, mas é como se já tivesse passado a vontade de ler aquele livro há muito tempo. É como se não houvesse mais identificação, por mais que eu tenha me empolgado em ler.

Deixei o livro na prateleira e fui procurar um de crônicas cotidianas...

sem fim

de tanta tristeza e incertezas pediu conselhos, foi ao médico, ao terapeuta, à missa, à taróloga, ao pai-de-santo, aos livros, ao colo da mãe.
tentava a cada dia se convencer da verdade dolorida que batia em sua porta, e parecia não conseguir.

e a tristeza continuava lá, tomando conta de seu ser que ia se definhando a cada pensamento insistente que o convencia do contrário de toda a verdade dita...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Minha alma tem andado tão tranquila que qualquer coisa que eu escrever aqui não vai ter graça.

(e, detalhe, tinha me esquecido! o blog faz hoje um ano :) )