sábado, 1 de março de 2014

Solidificada

A solidão sempre esteve presente nos momentos em que me pegava distraída. De início não gostava e achava que sua existência era algo ruim. Incomodava-me também com sua maneira arrogante e decidida de se aproximar, quase que impondo seus modos sobre os meus. Mas aprendi a aceitar e há tempos nosso relacionamento se tornou até que confortável. Ela costuma bater na porta sem avisar previamente que viria, entra algumas vezes sem minha permissão e fica eternamente nas salas do meu consciente, quase que tomando conta dos meus desejos mais profundos e anseios emocionais. Chega a ser irritante, mas com o tempo me acostumei bem.
Recentemente ela se afastou de mim e admito que senti falta de sua presença marcante, não sabendo o que fazer para substituía-la. Quando me vi com ele, ela, enciumada, se escondeu no mais profundo do meu corredor do consciente, quase na ala do imperceptível. Me esqueci dela por um tempo, por horas, dias e até mesmo meses.
Há duas semanas ela voltou, bateu novamente à minha porta, encabulada e cabisbaixa, perguntando se podia entrar. Eu relutei dessa vez, afinal, que tipo de relacionamento é esse que, depois de tanto tempo presente, decide sumir e voltar quase que sem explicações, satisfações ou então um arrependimento. Mas abri as portas mais uma vez. Ela entrou, sentou no
sofá e debochou da minha cara, dizendo que sempre esteve à espreita para voltar a me conquistar e disse que já sabia que conseguiria. Convencida.
Arrependi-me mesmo por algumas horas por tê-la deixado entrar, mas agora me (re)acostumei com sua irritante presença.
Bem-vinda de volta, solidão.